Filhas de Antígona no país das três Marias? Uma questão de género e genealogia
Palavras-chave:
"Novas Cartas Portuguesas", Antígona, cânone, anti-genealogiaResumo
Este ensaio explora a importância de Novas Cartas Portuguesas como uma obra simultaneamente fundadora e anti-fundacionalista para a escrita contemporânea de mulheres, em Portugal. Dada a centralidade de Édipo, de Sófocles, na construção da continuidade canónica da autoria masculina na tradição ocidental, analiso a importância variável atribuída à figura anti-genealógica de Antígona como um paradigma “alternativo”, viável para ler a obra de mulheres escritoras em termos de linhagem. Colocando Novas Cartas Portuguesas em diálogo com teorias feministas e de género de Judith Butler e de Luce Irigaray sobre Antígona, exploro a forma como as Três Marias permitiram o contra-mapeamento e a resistência da genealogia maternal, configurando-se como paradigma para a estruturação da memória cultural das mulheres no contexto da tradição literária portuguesa.