As 'Novas Cartas Portuguesas' ou uma nova cartografia do feminino

Autores

  • Alda Maria Lentina

Palavras-chave:

desconstrução do Eterno Feminino, corpo feminino, sexo/sexualidade e erotismo

Resumo

Se, em Novas Cartas Portuguesas “a mulher continua, metafisicamente, a ser sinónimo de ‘carne’ ou seja, ‘um corpo sem alma’, sendo, por isso, a antítese da razão inerente ao sexo masculino” (Simosas 2007), existe no entanto, por parte das autoras, uma vontade clara de problematizar e ultrapassar esta situação secular regressando a este corpo “that matters” (Butler 2005). A multiplicidade das vozes e experiências femininas presentes na obra, delineia um projecto político que impõe a “materialidade” do corpo feminino ao “Escrever o corpo, falar do desejo feminino, (...), como se (...) fosse necessário [as mulheres] cartografar[em]-se (...)” (Cunha 2012) para dar “corpo” à sua voz. Transformado em motor e território da escrita, o corpo feminino faz da escrita o corpus de um corpo “não monarquizado” (Cixous 2010) ligando o acto da escrita ao conceito de “escrita-mulher” (Didier 1981). Assim, o que está em jogo é a passagem de uma “feminilidade informe” (Butler 2005), cujo corpo foi “castrado e eufemizado” (Greer 1971), a um empoderamento, perturbante e transgressor. Este movimento questiona a visão de um eterno feminino imposto pela sociedade patriarcal e valorizado pelo regime salazarista. Ao falarem de um “corpo mutante” (Dorlin 2009), auto-erótico e ciente dos seus desejos, capaz de experimentar e exprimir uma verdadeira libertação do corpo feminino, as Novas Cartas Portuguesas fazem da mulher o sujeito de um “corpo não (...) adormecido” (Barreno/Horta/Costa 2010), cuja presença e expressão “histeriza[m] o espaço social” (Cixous 2010) provocando uma r-evolução.

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Publicado

2016-12-19

Como Citar

Lentina, A. M. (2016). As ’Novas Cartas Portuguesas’ ou uma nova cartografia do feminino. Cadernos De Literatura Comparada, (35), 279–294. Obtido de https://ilc-cadernos.com/index.php/cadernos/article/view/392

Edição

Secção

Novas Cartas Portuguesas: Constelações a Várias Vozes