O baldio como espaço de resgate afetivo
DOI:
https://doi.org/10.21747/21832242/litcomp38a10Palavras-chave:
realismo, desrealização, cenografia, humano, baldio, devirResumo
A ficção de Maria Velho da Costa aposta na criação de territórios subjetivos onde, através de diferentes vozes enunciativas, se exibem cenários alternativos do mundo e se abrem espaços de indagação sobre a vida e o Homem.
Pelo recurso a uma rarefação das coordenadas referenciais ou, como lhe chama Manuel Gusmão, a um «deslize da referência», através da montagem de cenografias que aludem ao mundo mais do que o representam, esta ficção abre espaços fronteiriços e intersticiais que permitem novos mapeamentos do humano.
A estratégia de desrealização da realidade, libertando o texto de amarras factuais, cria o desprendimento necessário à criação de atmosferas de uma certa errância, de territórios baldios favoráveis à eclosão de figuras matizadas e recetivas a novos pactos relacionais e afetivos. É pela exploração das potencialidades de conceitos como liminaridade, vizinhança, interstício e latência que se perspetiva a sublimação da desafeição e se oferecem alternativas aos roteiros de devastação existencial.
Ao encenar novas geografias do humano, em mundos plausíveis e porosos onde dialogam o imaginário e o psicótico, o real e o inverosímil, o humano e o animal, a ficção de Maria Velho da Costa oferece um exercício fecundante de mestiçagem em que se problematiza o que para a autora é fundamental: a realidade emocional dos afetos.