Fernan Díaz, quem teve que esperar 800 anos para se casar, ou: Sobre desleituras históricas e revisões canônicas
DOI:
https://doi.org/10.21747/21832242/litcomp43a7Palavras-chave:
Cancioneiro de Escárnio e Maldizer, Homoerotismo na Idade Média, cânone literárioResumo
Entre o acervo jacente nas cantigas de escárnio e mal-dizer contam-se várias de teor homoerótico, via de regra marcadas pela chacota e/ou pelo denosto. Alguns personagens do mundo medieval são focalizados em várias cantigas, de vários trovadores. A de 1479 do Cancioneiro da Biblioteca Nacional, de autoria de Airas Pérez Vuitoron, trata de um certo Fernan Díaz, provável meirinho real, que parece alimentar ilusões de casar-se com alguém de seu sexo, para escárnio geral. É comentada, assim como as referidas, na imprescindível edição do cancioneiro escarninho feita por Rodrigues Lapa (1965). Ao redor desse desejo e das reações que gera, em termos de desleitura desse tópico quando se trata do ensino da literatura dos cancioneiros, o presente texto adota um olhar crítico sobre a necessidade de remontagem, de releitura do deslido, do cânone literário da língua portuguesa, sob o princípio de que construção de memória equivale à construção de cidadania.