“Formar um bloco com os nossos corpos”: o(s) corpo(s) localizado(s) em "Novas Cartas Portuguesas"
DOI:
https://doi.org/10.21747/21832242/litcomp39a11Palavras-chave:
Novas Cartas Portuguesas, políticas de localização, feminismo, corpoResumo
O livro polémico e revolucionário Novas Cartas Portuguesas (1972), escrito por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, pode ser abordado a partir de dois aspetos interligados: uma insistência na representação de numerosas (e extremamente localizadas) experiências de mulheres, e a imagem recorrente do corpo feminino (ou dos corpos femininos). Ao considerar estes dois elementos em conjunto, este ensaio irá defender que as Três Marias antecipam, através do seu texto literário, as “políticas de localização” (Rich et al) que têm influenciado a teoria e a prática feminista desde os anos oitenta do século passado. Este estudo irá considerar o modo como Novas Cartas atribui uma determinada “localização” (ou múltiplas localizações) a numerosos corpos femininos, e em que medida é que os corpos individuais de mulheres são instrumentalizados pelas autoras para criar um “bloco” de resistência e de solidariedade feminina global. Concluir-se-á, porém, que a geometria e os limites de um corpo único são elementos necessários para a construção deste bloco duro e inquebrantável.