“Resta saber se o não-pensamento contamina o pensamento”: citação e invenção em Adeus à Linguagem de Jean-Luc Godard
DOI:
https://doi.org/10.21747/21832242/litcomp41a8Palavras-chave:
Jean-Luc Godard, Adeus à Linguagem, citação, invenção, alteridadeResumo
Um dos traços reconhecidos do cinema de Jean-Luc Godard é sua singularidade no haver-se com o trabalho da citação. Celebra-se a força vertiginosa com que seus filmes deslocam, e fazem agir, os fragmentos “saídos de mil focos de cultura” de que falava Barthes, em suas tão citadas palavras sobre o reino inexorável da citação. Este artigo propõe uma reflexão pontual sobre os modos como essa espécie singular de (des)concerto verbivocovisual acontece em Adeus à Linguagem (2014). Respondendo à chamada deste volume, concentra-se na vida que levam no filme – e ao filme – alguns dos fragmentos literários ali convocados, com atenção especial às vozes de Valéry, Rilke, Beckett, Borges e Anouilh. “O face a face inventa a linguagem”, ouvimos a certa altura, em meio ao vórtice de citações. Mostra-se aqui que o desejo de invenção e de alteridade manifesto nesse dito ganha agência nos modos como Godard põe face a face a literatura e o cinema – ao mesmo tempo que explora, entre outros, o face a face com o animal, a mulher, as margens do Ocidente, com a própria arte.