"Memórias de Polícias" em Portugal: A Utopia de um Novo Herói
Palavras-chave:
memórias de polícias, narrativas criminais, métodos de investigação, picaresco, factual e ficcional, polícias e ladrões, espiões e detectivesResumo
O empenho de alguns autores, em meados do século XX, na criação de um romance policial português, onde o herói fosse um agente da polícia, motivou a pesquisa de Memórias de Polícia, i.e., de narrativas de carácter (auto)biográfico, factuais ou semi-factuais, que relatassem aventuras heróicas dessa típica figura da sociedade moderna. Procurava-se, desse modo, inquirir sobre a emergência de histórias que oferecessem, em termos ideológicos e narratológicos, um desafio às populares narrativas de criminosos de raiz oitocentista. A escassez das memórias existentes (três livros apenas), em nelas, a representação dos agentes da polícia e dos seus métodos, não só não contribuem para a emergência de um novo tipo de herói como, indirectamente, reforçam a ideia de que o mito do "bom bandido" e a simpatia popular pelos criminosos perduram no imaginário português durante a grande parte do século XX.